HA-LAPID 7 ===================================== pátria: desejava-a para aqueles que a não tinham, para os que eram expulsos daqui e dali, para os que rolavam pelo mundo sem que lhes fosse permitido fixar-se para sempre em qualquer lado. como seres malditos e indesejáveis. Sempre que havia perseguições, in- justiças, crueldades. Benjamim pensava na Palestina. Se ela voltasse a ser a terra de Israel nada daquilo aconteceria. Os judeus teriam para onde fugir, onde se recolher, onde se abrigar. Assim. quando a terra onde nasciam os repelia. quando a pátria os expulsava, eles viam- -se completamente sós, abandonados, perdidos num mundo enorme, num mundo imenso onde, por desgraça, nunca cabfam, onde nunca havia um sítio em que os deixassem definitiva- mente em paz. A Palestina não fazia falta aos judeus felizes, que viviam integrados nos países, paises cultos e civílizados que os não perseguiam, mas era absolutamente pre- cisa para os outros desgraçados, a quem fora sugado o direito de posssuir um lar e uma pátria, para aqueles que nada tinham, os que sofriam é que precisa- vam que houvesse, no mundo, um ver- dadeiro "lar judaico", um lar que reco- lhesse todos os infelizes, todos os expatriados e de onde nunca-ninguém pudesse tornar a expulsa-los. Era este sonho que vivia em todos os corações judeus, era este amor à Terra Prometida que crescia com eles, desde o berço, ao lado do amor pátrio. Nenhum judeu queria, de livre von- tade, deixar para sempre o pais em que tinha nascido. Só à força de lá o arran- cavam, mas todos gostariam que a Pales- tina fosse livre e os pudesse receber quando, por fatalidade, se vissem per- seguidos e repelidos pelos seus irmãos de nacionalidade. Era este um problema milenário, em que Benjamim também pensava muitas e muitas vezes, mas sabia que nem sem- pre aqueles que não eram judeus o compreenderiam. Quantas vezes não eram acusados de traidores e de antipatriotas? Todavia, em todas as épocas, sempre que houvera guerra, os judeus tinham defendido herôicamente seu país, a sua pátria, com tanto entusiasmo, com tanto ardor e tanto sacrifício como os outros. Morriam, de armas na mão, defen- dendo até ao último instante a terra onde tinham nascido e que lhes dera abrigo e nacionalidade. Mas, depois, tudo isto era esquecido e as acusações injustas tornavam a cair tràgicamcnte sobre eles... Eram todas estas coisas dolorosas e amargas que davam uma vaga tristeza às almas dos meninos judeus, que cres- ciam entre os outros, ao lado dos outros sem, contudo, terem a sua alegria, a sua despreocupação, a sua felicidade. E essa tristeza mantinha-se pela vida fora. Já homem, Benjamim lutava contra ela. Tinha razão, agora, de ser feliz e esforçava-se por afastar de si todas as recordações penosas. Queria convencer-se de que, desde que casara com Cassilda, deixara, com- pletamente de estar ligado ao seu povo. Para salvar a sua felicidade ele preci- sava de esquecer o passado e viver uma vida nova. Mas não conseguia... Cas- silda dissera que ele estava a engana-la, há um ano. Não! Não estava! Estava, simplesmente a tentar enganar-se a si próprio. Amava Cassilda e queria ser feliz junto dela. Sacrificara-lhe tudo. Atraiçoara a si e aos seus. Procurava desesperadamente, encontrar a felici- dade, mas as palavras da mulher tinham-no, de repente, despertado. Ficara ofendido e triste, porém reco- nhecia que ela tinha razão. Apesar de se ter baptizado, não era não podia ser cris- tão. Pensava e sentia como antigamente, nada se modificara e chegava a esta con- clusão com a mais profunda mágua. Queria reagir e afastar para bem longe todos aqueles problemas. Revol- tava-se. Era jovem e tinha o direito de amar e ser felíz!... Contudo, sentia que arrastava atraz de si dois mil anos de sofrimento, de que não seria fácil desem- baraçar-se. Eram grilhetas demasiada- mente pesadas para que pudesse que- brá-las e libertar-se completamente. Estava preso ao seu povo, amava-o e jamais conseguia abandona-lo... (Exerpto do romance inédito "Encruzihadas de Hanid Es- tela) - 1957
N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)
> P07