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N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)







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             HA-LAPID              7
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pátria: desejava-a para aqueles que a
não tinham, para os que eram expulsos
daqui e dali, para os que rolavam pelo
mundo sem que lhes fosse permitido
fixar-se para sempre em qualquer lado.
como seres malditos e indesejáveis.

Sempre que havia perseguições, in-
justiças, crueldades. Benjamim pensava
na Palestina. Se ela voltasse a ser a
terra de Israel nada daquilo aconteceria.
Os judeus teriam para onde fugir, onde
se recolher, onde se abrigar. Assim.
quando a terra onde nasciam os repelia.
quando a pátria os expulsava, eles viam-
-se completamente sós, abandonados,
perdidos num mundo enorme, num
mundo imenso onde, por desgraça,
nunca cabfam, onde nunca havia um
sítio em que os deixassem definitiva-
mente em paz.

A Palestina não fazia falta aos judeus
felizes, que viviam integrados nos países,
paises cultos e civílizados que os não
perseguiam, mas era absolutamente pre-
cisa para os outros desgraçados, a quem
fora sugado o direito de posssuir um
lar e uma pátria, para aqueles que nada
tinham, os que sofriam é que precisa-
vam que houvesse, no mundo, um ver-
dadeiro "lar judaico", um lar que reco-
lhesse todos os infelizes, todos os
expatriados e de onde nunca-ninguém
pudesse tornar a expulsa-los.

Era este sonho que vivia em todos
os corações judeus, era este amor à
Terra Prometida que crescia com eles,
desde o berço, ao lado do amor pátrio.

Nenhum judeu queria, de livre von-
tade, deixar para sempre o pais em que 
tinha nascido. Só à força de lá o arran- 
cavam, mas todos gostariam que a Pales-
tina fosse livre e os pudesse receber
quando, por fatalidade, se vissem per-
seguidos e repelidos pelos seus irmãos
de nacionalidade.

Era este um problema milenário, em
que Benjamim também pensava muitas
e muitas vezes, mas sabia que nem sem-
pre aqueles que não eram judeus o
compreenderiam.

Quantas vezes não eram acusados
de traidores e de antipatriotas? Todavia,
em todas as épocas, sempre que houvera
guerra, os judeus tinham defendido
herôicamente seu país, a sua pátria,

 

com tanto entusiasmo, com tanto ardor
e tanto sacrifício como os outros.

Morriam, de armas na mão, defen-
dendo até ao último instante a terra
onde tinham nascido e que lhes dera
abrigo e nacionalidade. Mas, depois,
tudo isto era esquecido e as acusações
injustas tornavam a cair tràgicamcnte
sobre eles...

Eram todas estas coisas dolorosas e
amargas que davam uma vaga tristeza
às almas dos meninos judeus, que cres-
ciam entre os outros, ao lado dos outros
sem, contudo, terem a sua alegria, a
sua despreocupação, a sua felicidade.

E essa tristeza mantinha-se pela vida
fora.

Já homem, Benjamim lutava contra
ela. Tinha razão, agora, de ser feliz e
esforçava-se por afastar de si todas as
recordações penosas.

Queria convencer-se de que, desde
que casara com Cassilda, deixara, com-
pletamente de estar ligado ao seu povo.
Para salvar a sua felicidade ele preci-
sava de esquecer o passado e viver uma
vida nova. Mas não conseguia... Cas-
silda dissera que ele estava a engana-la,
há um ano. Não! Não estava! Estava,
simplesmente a tentar enganar-se a si
próprio. Amava Cassilda e queria ser
feliz junto dela. Sacrificara-lhe tudo.
Atraiçoara a si e aos seus. Procurava
desesperadamente, encontrar a felici-
dade, mas as palavras da mulher
tinham-no, de repente, despertado.

Ficara ofendido e triste, porém reco-
nhecia que ela tinha razão. Apesar de se
ter baptizado, não era não podia ser cris-
tão. Pensava e sentia como antigamente,
nada se modificara e chegava a esta con-
clusão com a mais profunda mágua.

Queria reagir e afastar para bem
longe todos aqueles problemas. Revol-
tava-se. Era jovem e tinha o direito de
amar e ser felíz!... Contudo, sentia que
arrastava atraz de si dois mil anos de
sofrimento, de que não seria fácil desem-
baraçar-se. Eram grilhetas demasiada-
mente pesadas para que pudesse que-
brá-las e libertar-se completamente.
Estava preso ao seu povo, amava-o e
jamais conseguia abandona-lo...

(Exerpto do romance inédito "Encruzihadas de Hanid Es-
     tela) - 1957


 
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