HA-LAPID 5 ======================================= e perseguido não sería preferível possuir o Uganda do que não possuir coisa alguma? A verdade, porém, é que essa terra de Africa nada dizia aos corações judeus. Não era ali Jerusalém; não era dela que a Biblia falava... Para quê aceitá-la? Israel continuaria sem pátria e conti- nuaria a sonhar eternamente com a que Tito destruira. Para todos os sionistas (e haverá algum judeu que não seja sionista?) só a Palestina era ardentemente desejada e querida. Teria sido, realmente, um erro essa recusa? A existência do jovem Estado de Israel é a resposta mais clara¡ Os judeus sofreram, mas souberam esperar. A promessa biblica cumpriu-se: de todos os pontos do mundo, os filhos dispersos de Israel voltaram. Os sonhos de Theodor Herzl, o criador do sionismo politico, realizaram-se. Os laranjais tor- naram a florir. A Primavera voltou às terras de Sião. Pode comemora-se agora, com dobrada alegria, a festa da libertação, a festa nacional da Páscoa! Como Herzl se sentiria orgulhoso e feliz se pudesse, por um instante só que fosse, contemplar a sua obra! Ver as cidades erguidas e os campos cultivados e admirar, enternecido, a redenção do seu povo! Israel, porém, continua rodeado de inimigos. O sangue continua a correr e a Paz, tão desejada, é ainda um sonho longínquo para os judeus... De espin- garda à cabeceira, homens e mulheres, tem que estar sempre alerta, defendendo, palmo a palmo, a pequenina terra que Deus lhes deu. A batalha de Israel prossegue. A tra- gédia do povo eleito não está ainda com- pletamente terminada... Todos estes problemas angustiosos foram admiràvelmente focados pelo eru- dito e ilustre portugués Dr. Augusto d'Esaguy, nos seus livros: "Grandezas e Misérias de Israel", "Europa 39", "Ingla- terra 40", "Panorama de Israel na Eu- ropa" e "Nasceu um Estado, Israel". É vasta e conhecida a obra do Dr. Au- gusto d'Esaguy, médico distintíssimo que à medicina tem dedicado grande parte do seu labor científico e literário. Jornalista e escritor, duma actividade brilhante e incansável, não é, portanto, de estranhar que, durante a segunda Guerra Mundial e quando os judeus estavam a ser mais bàrbaramente per- seguidos, tivesse vindo enriquecer as letras portuguesas com mais estas obras que, no seu estilo emotivo e admirável, esclarecem e conduzem o leitor ao âmago do drama judaico. Em "Grandezas e Misérias de Israel", o primeiro desta série, publicado em 1939, o leitor encontra, logo nas primeiras páginas, dedicadas a Theodor Herzl, a definição do que é o sionísmo: "O sio- nismo é a doença da alma de Israel, a mais profunda de todas as paixões da alma de Israel. Todos os povos emigram na miragem do oiro; Israel emigra, des- prezando o oiro, na miragem eterna de uma Pátria". O diagnóstico do Dr. Augusto d'Esaguy é exacto. O sionismo "que significa o regresso dos judeus à Pales- tina" é, de facto, a doença da alma de um povo inteiro que, como nenhum outro, soube por dolorosa experiência o que era não ter pátria. Perpassam depois, neste livro, as visões trágicas dos "ghettos, a injustiça e a crueldade do povo polaco, "dos estu- dantes polacos que noite alta, assaltam e destroem a vida e os haveres dos judeus, os cemitérios e os templos". Aparecem rápidas, mas profundas análises à obra de Isaac L. Perez, es- critor judeu polaco que "melhor do que ninguém compreendeu e sentiu a vida dos "ghettos" a miséria ancestral e a dor de Israel", e à obra de Scholem- Aleichem, escritor igualmente polaco e igualmente admirável que, como Perez, escreveu os seus livros em "ydish", a lingua do "ghetto", "a língua-dor, a lin- gua-tragédia, a lingua que melhor traduz a ansiedade do povo escolhido". E referindo-se ainda à vida horrivel dos judeus polacos: "Contemplei, com os meus olhos ocidentais, cheios de azul do mar, toda a tragédia de Israel; o negrume da noite; os lábios das crian- ças que não sabem e não podem rir; os velhos de olhos macerados pelo estudo e pelas noites de vigilia; as mulheres em cujos rostos se adivinham os ecos
N.º 155, Tishri 5718 (Set 1957)
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