Ha-Lapid הלפיד

N.° 77                           PORTO-Lua de Out. e Nov. de 5697 (1936 e.v.)                          ANO XI
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Tudo se ilumina                     _______  ___  _______ |=|____  _______                    ...alumia-vos e
para aquele que                    |____   ||_  ||  ___  ||____  ||_____  |                   aponta-vos o ca-
busca a luz.                            | |   |_| \_\  | |    / /   _   | |                   minho.
                                        | |       _____| |   / /   | |  | |
       BEN-ROSH                         |_|      |_______|  /_/    |_|  |_|                          BEN-ROSH

                                                  (HA-LAPID)
                                                   O  FACHO

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DIRECTOR E EDITOR: -A. C. os BARROS BASTO (BEN-ROSH)   || COMPOSTO E IMPRESSO NA Empresa DIARIO DO PORTO, Lda
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(Toda a correspondencia deve ser dirigida ao director) ||   ---------------- P O R T O ----------------
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          Genealogia dum Monstro

...fizeram vir de Roma hum fero Monstro de
forma tam estranha e tam espantosa catadura que
soo de sua fama tôda Europa treme, seu corpo he de
áspero ferro cõ mortífero veneno amasado, com hua
durissima concha coberto de bestas escamas de aço
fabricado, mil azas de penas negras e peçonhentas o
leuãtam da terra, e mil pees danosos e estragadores
o moué, sua figura daquela do temeroso lião toma
parte, e parte da terrivel catadura das serpes dos
desertos de Africa: a gradeza de seus dentes aquelas
dos mais poderosos Elefantes arremedam: e o silvo
ou voz, cõ corpos presteza que o venenoso Basalisco
mata: Dos olhos e bôca continuas chamas e labaredas
de cõsumidor foguo lhe saem, o pasto de que se ceua
he outro cõ corpos humanos amassdo, precede a
Aguia na ligeireza do seu voar, mas por onde passa
fez cõ a tristonha sombra cerraçam, por mais claro
que o Sol naquele dia se mostre, ínalmente seu
rasto no que atrás fica deixa hũa tenebra como
aquela que foi aos Egipcios dada por hüa das plagas,
e depois que onde seu voo encaminhou arriba, a ver-
dura que pisa, ou aruore viçoso sôbre que pre os
pees, seca estragua e amurchece, e sôbre ysso de raiz
com o destruidor hico o arranca, e de tal sorte com
sua peçonha todo aquele circuito que compreende o
deixa assolado, que como os desertos e areaes de Si-
ria onde planta nam prende nem erua nasce neon-
verte; Essa tal alimaria em todo o povoado de meus
fllhos (que em hábito de cristãdade estavam desconhe
cidos) meteo, e com foguo dos olhos hum grandissimo
número abrasou semeando a terra de enfinitos orfãos
e viuvas: com a bôca e poderosos dentes suas riquezas
e ouro lhes engiutio e destrinçou; com os pesados e
peçonhentos pees suas famas e grandezas lhes pisou
e destruyo, e com a temerosa e disforme catadura, a
outros seus coorados rostos lhe desfigurou e sumio e
seus corações e almas com seu voo escureceo. e estes
mesmos efeitos vay ynda agora naquela região conti-
nuando nos membros que de meu corpo Ficaram des-
troçados na Espanha, sem lhes valer mostrarem-se
Cristãos para salvar a vida:

E' com estas palavras que o escriptor quinhen-
tista, o judeu portugues Samuel Usque, na sua obra



NAHUM iSRAEL--Consolaçam as tribulaçoens de
Israel, retrata a Inquisição.

Vamos agora apresentar a largos traços a genea-
logia deste monstro, extraída de obras de autores
cristãos:

No ano de 313 concedeu o imperador Romano
Constantino, por edicto seu, uma situação previligiada
ao cristianismo.

Desde que o cristianismo se sentiu senhor do Im-
pério começou a perseguir não só os pagãos mas
também os cristãos dissidentes.

A 27 de Maio do ano 337 Constantino pediu a
imposição das mãos e o baptismo, que adiara sempre
receber, e os sacerdotes cristãos satisfizeram-lhe então
a vontade.

Os papas e os bispos do IV século, aproveitando-
-se dos emperadores terem abraçado o Christianismo,
começaram a imitar, até certo ponto, a conducta que
tinham censurado nos padres pagãos.

Leis dos emperadores d'oriente e do ocidente
contra os hereticos--códigos de Teodosio e de Justi-
niano estabeleciam, além de outras penas, a nota de
infâmia a privação de empregos e de honras, a con-
fiscação dos bens, proibição de testar, condenação a
exilio, deportação, mas ainda não a pena de morte...

Os padres fizeram crer, por várias vezes aos em-
peradores que a tranquilidade do Imperio seria per-
turbada se não se empregaram meios mais eficases.

0 imperador Teodosio fez pubilcar em 382 uma
lei contra os maniqueus; a qual determinava puni-los
com o último suplício, e confiscar os bens em proveito
do Estado e encarregava o prefeito do pretorío, de
crear inquisidores e delatores dos que se ocultassem.

(Lei 9 sobre os hereticos, no código de Teo-
dosio)-

Os sucessores de Teodosio modificaram estas leia
repressivas. Publicaram edictos convidando os here-
ticos à conversão ameaçando-os com as justiças Im-
periaes se persistissem nos seus érros. Efectivamente
foram empregados vários castigos desde a multa e
açoutes até à deportação e algumas vezes à pena de
morte.