HA-LAPID 7 ====================================== Para os Pequeninos HISTORIETAS THLMUDICAS BURLA POR BURLA Outrora próximo de Jerusalém havia uma cidade chamada Athina na qual habi- tava um comerciante que se considerava um grande espertalhão. Gabava-se êle de burlar os habitantes de Jerusalém sempre que ia a esta cidade. Ora, os jerusalemitas, sabendo isto, fi- caram muito desgostosos e escolheram logo de entre êles um homem para ir a Athina e, sôb qualquer pretexto, atrair a Jerusalém o célebre comerciante a fim de castigar a sua ínsolêncía. Não foi dificil ao encarregado desta mis- são encontrar o nosso homem logo que chegou a Athina. Um dia, passeando ambos pelas ruas, o jerusalemita, mostrando a sandália, diz: -A correia da minha sandália rebentou- -se; leva-me a um sapateiro próximo daqui. Composta a sandália, o homem deu ao sapateiro pelo seu trabalho uma moeda mais do que valiam as sandálias. No dia seguinte, passeando também jun- tos, o homem notou que se lhe rompera a correia da outra sandália. Foram novamente ao sapateiro a quem o jerusalemita pagou tão liberalmente como da outra vez. o homem de Athina, admirado, diz: -As sandálias em Jerusalém devem es- tar muito caras!... Só assim se compreen- de que pagasses tanto por comprar uma cor- reia. -De tacto é assim - diz o outro - ali costumam vender-se a dez ducados e, mes- mo quando estão mais baratas, não custam menos de sete ou oito. -Oh! -tornou o de Athina,-não te pa- rece que seria um magnifico negócio com- prar calçado aqui para o ir vender lá! -Não deixas de ter razão. E' até uma bela ideia; e, se me quizeres dizer quando vais a Jerusalem eu me encarregarei de te procurar clientes. Satisteito com a ideia, o homem de Athina, que se gabava de burlar sempre os jerusalemitas, comprou uma grande quan- tidade de sapatos e partiu para Jerusalém depois de comunicar ao amigo a sua ida. Este foi ao seu encontro muito antes dele entrar nas portas da cidade, a fim de lhe dar as boas vindas. Porém, quando estava próximo das portas diz-lhe: -Ah! Esquecía-me de te lembrar uma coisa: é que é costume antes de um estran- geiro entrar em jerusalém para vender, ra- par a cabeça e pintar de preto a cara. Es- tarás tu disposto a sujeitar-te a isso? -Ora essa! Porque não? Um negócio destes por nada se pode desprezar. O nosso estrangeiro, rapada a cabeça e enfarruscada a cara (sinal para que todos os habitantes de Jerusalém o reconhecessem) ocupou um lugar no mercado onde expos ao público todo o seu carregamento de calçado. Quando os compradores, ao passar, pre- guntavam os preços, recebiam imediatamen- te esta resposta: -Custam dez ducados; posso dá-los a nove mas não os darei a menos de oito. Estas palavras provocavam numa explo- são de riso e uma grande balburdia no mercado. O nosso homem foi levado em triunfo por entre a multidão que lhe tirou todos os seus ricos sapatinhos. Então procurou o jêrusalemita que o havia enganado e furioso, diz-lhe: -Não devias fazer-me esta partida. Fiz- -te eu alguma parecida quando estiveste em Athina? -Cala-te-responde o jerusalemita Po- des-te ir embora e que te sirva de lição para o futuro. Creio que deves ter perdido a vontade de nos burlar mais vezes e, o que é mais grave ainda, de te gabares des- sas burlas. Vai e boa-viagem. Norberto A. Marêno
N.º 077, Heshvan-Kieslev 5697 (Out-Nov 1936)
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