HA-LAPID 5 ======================================== de M. A. me faziam sorrir e me traziam à mente as palavras do meu correligionário jesus de Nazareth "abençoados os pobres de espirito que dêles é o reino dos ceus". Sentia desejos de as comentar imediatamen- te, mas isso requeria conhecimentos mais ou menos profundos das duas crênças em questão, razão porque não podia fazê-lo. Diz M. A., por exemplo, na carta dirigi- da à sua pessoa e que o meu amigo teve a amabilidade de publicar, referindo-se à diferença que há entre o lar cristão e o anti-cristão: "No primeiro há paz, há abnegação e há amor; no segundo há desharmonia e egoísmo unicamente. No lar onde os espo- sos são cristãos bem formados não há nu- vens porque as poucas que aparecem são logo dissipadas pela união cristã". Diz ain- da que "tôdas as mulheres sabem ser es- posas, mas há casos em que só a mulher cristã o "sabe ser". Acrescenta que a mu- lher cristã é o modêlo de resignação e abnegação". Discordo absolutamente de tudo. Queria dlzer que só depois da vinda de Jesus de Nazareth, isto é, há 1936, é que as bôas esposas começaram a surgir? Até isto revela falta de conhecimento da sua própria religião pois se M. A. conhe- cesse a Biblia Sagrada, base fundamental da sua religião, não teria coragem para afirmar semelhante coisa assim como o meu amigo de concordar com ela. Onde é que se têm encontrado esposas e mais dignas do que entre as filhas de Israel? Leiam ambos, o amigo Rovala e M. A. a história de Ruth e de Ester e admirem o nobre exemplo de amor e dedicação daque- las duas mulheres. Leiam tambem algumas passagens do Livro dos Macabeus e admirem o sublime exemplo daquela mãe que vê morrer os seus filhos um a um e longe de os aconselhar a fazer o sacrificio que lhe pedem (comer carne de porco) em troca de honras e riquezas, aconselha-os a ser dignos dos irmãos que já tinham preferido a morte à violação da sua lei. E no fim abre tam- bem ela os braços à morte para se ir reunir no céu aos seus queridos filhos. Onde é que têm os católicos mais subli- me exemplo de amor e de fé? Podem apresentar-me as mulheres que seguiram Cristo. Os actos de algumas são admiráveis tambem concordo. Mas quem eram elas? Egualmente judias, meu caro Rovala. Vê, pois, que os seus modêlos, virgem Maria. S. José, Maria Madalena, etc., etc., seguiam a religião israelita. Agora, para não vir para aqui discordar apenas, o que é muito feio, vou procurar nos seus artigos alguma coisa com que possa con- cordar. Vai ser a solene afirmação feita pelo amigo Rovala de que "o triunfo da verdade e da fé só existe na religião de Cristo". E' isto com que eu concordo plenamente. A verda- deira religião é a religião de Cristo. Sabe o amigo Rovala qual é essa religião? a Israe- lita. Resta-lhe segui-la. Vêem portanto, amigo Rovala e M. A que o triunfo de ambos não é o meu. Eu sob êste ponto de vista já triunfei. Triun- fem agora os meus amigos. Finalmente, referindo-se à "pretensão" que ambos tiveram dir-lhes-ei que voltar ao catolicismo, isto é, passar da luz para as trevas equivale para mim a "passar de ca- valo para burro" e eu não estou disposto a isso. Um grande abraço do dedicado amigo Norberto A. Morêno. ----------------- KOL-NIDRÉ A propósito de uns acontecimentos na Polónia traz o jornal "Pariser Hoint" um artigo da autoria de B. Joshsohn sôbre o Kol-Nidré. Como esta importante oração se rela- ciona com a vida dos judeus maranos e Ha-Lapid está encarregado de recordar e ensinar todos os assuntos nestas condições vem hoje, aproveitando a referida alusão, focar esse tema com uma brevidade pro- porcional ao tamanho das suas colunas. Kol Nidré é uma expressão hebraica que se traduz por todos os votos. Remon- tados tempos em que a Inquisição espalhava por toda a parte os seus esbirros e as suas chamas sempre impiedosas e devoradoras --Evoca. portanto, esses memoráveis tem- pos e está intimamente ligado a essa enor- me tragédia que é a judeo-marana. Foi no reinado de D. Fernando de Es- panha, o Católico, que um marano, célebre
N.º 077, Heshvan-Kieslev 5697 (Out-Nov 1936)
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