HA-LAPID 5 ========================================= Rosh Ha-Shanah e se termina pela de Kipur. E como a influência destas festas continua a exercer-se até ao seu retorno anual, é este período que os fiéis tomaram o hábito de contar pelo ano; de lá vem que o primeiro dia deste periodo se tornou o primeiro do ano (Rosh Ha-Shanah). A' medida que o judaismo tomava cons- ciência de si próprio, e que os seus senti- mentos eram atiçados pelos obstáculos acumulados para o destruir, um sentido novo se enxertou sobre o antigo sem o suprimir: foi assim que a festa das espigas (Hag Ha-aviv) se tornou a da libertação do jugo do Egipto (Zeman Heruthenu). que o simbolo da passagem do inverno para a primevera (Pessah) se tornou o da protecção das casas judaicas sobre as quais Deus passava sem maltratar; é assim. igualmente, que Pentecostes deu à sua razão primitiva um sentido histórico: o ani- versário da promulgação do Decálogo, e que Rosh Ha-Shanah é tornado o da cria- ção. Nós vamos passar em revista rapida- mente cada uma destas diferentes festas que santificam o ano. CAPÍTULO X Páscoa A festa de Páscoa, onde ela é obser- vada, desenvolve uma atmosfera espe- cial: toda a vida normal, as preocupações habituais, parecem relegadas num mundo hamets, aquele onde se come o pão leve- dado, e que é na Páscoa o que a impureza é na pureza. Durante os oito dias que dura esta festa, Israel não quer ser pertur- bado pela vida de cada dia: ele quer viver com as suas recordações as mais pro- fundas. Ele quer se recordar que, tal a natureza quebrando a sua prisão hibernal. Assim Israel saiu da escravidão egípcia; e, celebrando esta libertação, condição do seu renascimento para a vida, ele recorda todas as libertações que vieram salva-lo nos tempos mais desesperados (Be-Khol vador-Hagadah). Estas razões históricas não teriam bas- tado a dar-lhe o lugar privilegiado que ela ocupa. Se ela adquiriu uma tal importân- cia, é menos por ter salvo o povo judeu, que o génio judeu, o mais ardente promo- tor da santidade no mundo. "Deus livrou Israel do jugo egípcio a fim de que ele tenha a possibilidade de se elevar em san- tidade" (Lev. XI. 45). A recordação dos sofrimentos sofridos no Egipto não é man- tida com o fim de inspirar um fanatismo exaltado que certos dos nossos contempo- râneos vão até considerar como sagrado; ele não tem outro fim senão de nos impe- lir a poupar aos outros um servilismo de que nós conhecemos todo o azedume. "Se o teu irmão, por um revés de fortuna, chega a vender-se como escravo por Ti, não o trates como um escravo; que ele fique em tua casa até ao Jubileu a Titulo de hóspede ou de mercenário" (Lev. XXV. 39). Vitimas do egoísmo dos se- nhores egípcios, tendo aprendido à nossa custa a conhecer o preço da generosidade. usemos dela largamente para os outros: "Colhendo as vossas azeitonas ou trazendo as vossas vindimas, não volteis atraz para apanhar o que podeis ter esquecido, dei- xai-o para o estrangeiro, para o órfão e para a viúva, em recordação da saida do Egipto" (Deuteronômio XXIV, 22). Estas prescrições não foram ditadas uni- camente em beneficio dos Israelítas; não só o estrangeiro não é excluído, mas o egípcio tem o mesmo direito às mesmas atenções (Deut. XXXIII, 8). A recordação da saida do egipto inspirou uma legislação toda baseada sobre o respeito da persona- lidade humana e da justiça social. CAPÍTULO XI Pentecostes Depois da Páscoa, a santidade atravessa o ano judaico pela festa das Sete Semanas ou Pentecostes (Shabuoth). Esta festa, que foi na origem a das primeiras colheitas dos cereais (Hag ha- -bicurim), tornou-se, por uma evolução análoga à da Páscoa, a festa das primícias da vida espiritual, a da promulgação da Lei do Sinai (Zeman matan Torathenu). Aos descendentes de Israel afinados por séculos de cultura moral, a simples santi-
N.º 151, Shevat-Tamuz 5713 (Jan-Jun 1953)
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