4 HA-LAPID ====================================== OS JUDEUS e o descobrimento da Hmérviea (Continuação do N.° 153) Colombo conseguiu ocultar a sua origem e assim passou-se à discussão do seu projecto marítimo. Não há dú- vida de que a ideia de Colombo era atrac- tiva para a corte espanhola: ao mesmo tempo que servia de gesto de mofa e de sarcasmo contra o rei de Portugal, que queria monopolizar todos os descobri- mentos, deixando os pobres espanhóis a crescer água na boca... Mas o que Colombo não disse à rainha foi que, se ele tinha ideias de tão grande alcance, as devia em grande parte aos papéis e mapas que tinham sido propriedade do seu sogro (Bartolomeu Perestrelo), cuja filha era agora sua esposa. Contrá- riamente ao que se diz, a rainha não empenhou as suas jóias para obter o dinheiro por meio da qual forneceria navios e marinheiros a Colombo. Para financiar essa empresa a corte de Es- panha (como era também de uso nesse tempo, mesmo em Portugal), pediu -seria melhor dizer, "ordeno"-aos banqueiros judeus que dessem o di- nheiro para as despesas. Um rico judeu, chamado Abravanel, contribuiu financeiramente para a via- gem com ajuda dum banqueiro amigo da corte, chamado Luís de Santãngelo, também judeu, mas que não passava por tal ("marrano" era o nome que nesse tempo se dava aos judeus que fingiam ser católicos, para poderem estar a salvo de qualquer perseguição). Ambos, pois, adquiriram os trés navios que trouxeram o almirante Cristóvão Colombo para as costas americanas. -navios que se denominavam "Santa Maria", "Pínta" e "Nina". Após 5 semanas de viagem por ma- res desconhecidos ainda não se via terra e as velas dos três navios estavam pendentes como trapos sem que o vento as enfunasse, e o Céu escaldava, ruti- lante de sol abrazador. A tripulação, insatisfeita, murmurava, preparando se para a revolta. A incitá-la ao motim havia a bordo um indivíduo de nome Lope de Gor, que há última hora se tinha associado à aventura depois, de ter contribuído para com a compra dos três sinos dos barcos. Ao que parece, este Lope de Gor tinha pretensões a substituir o almirante Colombo e a roubar-lhe o prestígio e a fama. Assim nos principios de Outubro de 1492, os trés navios ainda não tinham encon- ---------------------------------------- nunca senão fórmulas teóricas, que não são aplicadas integralmente na prática da vida e cuja moralidade se mede com cada circunstância. É moral ter dito de estender a face direita aos que batem na face esquerda que ter incitado a os desencorajar pelo medo de sanções? Há mais cuidado com a moral em um Rabi Simon ben-LaKiche que reconhece que aquele que se mostra brando ali onde convém que ele que se mostre firme se conduzirá cruelmente quando tiver de usar de cleméncia. De facto, o mundo cristão não agiu com os seus rivais com a mais mansidão e justiça que os outros. O que faz a grandeza do judaismo, não e tanto por ter encontrado as fórmulas de moral as mais felizes, como dizem os seus rivais, mas de ter estabelecido uma poderosa corrente de vida moral que inspirou estas próprias fórmulas e que teimou no seu entusiasmo, o fiel, mesmo o mais ignorante do texto escrito. O que falta hoje ao mundo, não são nem os tratados, mais maravilhosos uns que os outros nem, nem as formulas mas esta corrente de vida moral que o judaismo soube criar e desenvolver.
N.º 154, Tishri 5717 (Set 1956)
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