HA-LAPID 5 ==================================== trado porto e a 11 desse mês os tripulan- tes amotinaram-se sendo o almirante atacado pelo imediato. Mas Colombo deitou abaixo o assaltante com alguns socos bem aplicados. Ao mesmo tempo, Lope de Gor incitava os homens a ati- rarem o almirante ao mar. Este, imper- turbável, esperava a pé firme o primeiro que arremetesse. A confusão era terrí- vel. Só se ouviam insultos e imprecau- ções, quando de repente o vento come- çou a enfunar as velas das embarcações; isso fez com que o almirante desse ordem para marchar avante. Mas tanto o imediato como Lope de Gor davam contra-ordens à tripulação, incitando-a que voltasse para Portugal e Espanha e não obedecesse ao almirante. Em vão este pedia aos homens que tivessem juízo e lhe obedecessem. E a disciplina a bordo já quase não existia. Foi nesta altura, quando uma tragé- dia histórica estava quase a desenro- lar-se, que o rapaz postado de vigia na torre do mastro, gritou com toda a força dos seus pulmões: "Terral... Terra!... Terra|...". Esta palavra má- gica fez com que os homens se conti- vessem e, num momento, como que por milagre, a atitude dos amotinados transformou-se de revolta em alegre demonstração de apoteose. Os homens atiraram-se ao chão do convés, ajoe- lhando-se diante da figura magestosa e impassivel do almirante, beijando- -lhes os pés e pedindo perdão do acto cometido. Não quis o almirante Colombo vin- gar-se nem castigar os culpados. A sua hora tinha chegado: era a ocasião para ser generoso e dar graças à Providência. Chamando então seu filho Fernando, que o acompanhava na viagem, e Luís Torres, sobrinho do judeu que tinha sido o principal contribuinte para a empresa, Colombo fez face aos homens e, apontando para a terra desconhecida que mais tarde veio a chamar-se, não a Índia, mas a América, proferiu o discurso histórico que demonstra clara- mente o papel dos judeus na descoberta deste Novo Mundo: "Nesta hora gloriosa, quando pela primeira vez vamos pisar o solo desta terra dos meus sonhos não devemos. olvidar o homem que foi o único que tornou realidade esta aventura, contri- buindo com os dinheiros necessários para ela. Esse homem foi Luis Santan- gelo, o "marrano" o judeu e a ele devemos tudo. Aqui vos apresento seu sobrinho, Luis de Torres. Vai ser ele agora o primeiro a entrar no bote que nos levará a terra, e será ele também o primeiro a pôr o pé nessa terra. Não se dirá que Cristóvão Colombo, espa- nhol e cristão, obediente servo de Sua Majestade e da Igreja, não sabe ser grato e reconhecido para quem o fez grande e vitorioso". Foi assim que o primeiro homem a pisar terra americana se chamou Luis Torres, um "marrano" e judeu. Os pa- péis de Colombo provam isso sem dei- xar a menor dúvida. (Da Gazeta do Sul 9-1-1955) -------------------------------------- NOSSAS PERDAS A 27 de Dezembro de 1954 faleceu em Lisboa o bondoso Engenheiro An- tónio Monteiro Azancot, natural de S. Tomé. Foi enterrado no Cimitério Israelita. A 19 de Abril de 1955 faleceu no Porto o piedoso israelita Asriel Brons- tein e foi enterrado no cimitério israe- lita de Lisboa. A 29 de Julho de 1955 faleceu no Porto o professor de contabilidade Ma- nuel Oliveira Brandão, um dos pri- meiros cripto-judeus que entrou ofi- cialmente na Comunidade israelita do Porto. ------------------------------------ Do velho Floc-lore comercial português Libra-te do moura e do judeu E do homem de Viseu, Vem depois o braguez Que é pior que todos três, E o do Porto com seu contrato Que é pior que todos quatro.
N.º 154, Tishri 5717 (Set 1956)
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