2 HA-LAPID =============================================== O Candeeiro de Hanukáh CONTOS EM PAPEL Conta-nos a História que Antíoco Epifânio, rei da Síria, oprimia crue1mente os Judeus, obri- gando-os a adorar ídolos. Muitos morreram, em defesa da ideia monoteísta, até que Materias e os seus cinco filhos, cogno- minados os Macabeus (166 a. C), organiza- ram a revolta e lutaram corajosamente con- tra os Sírios. Judas Macabeu, o hérói mais notável desta famí- lia, venceu os invasores e entrando em Jeru- salém restaurou e purificou o Templo, onde voltou a arder o candeeiro sagrado. Desde então, o povo Hebreu ficou a comemorar festivamente a Restauração (Hanukáh) da sua pátria e, embora mais tarde disperso pelo Mundo, continuou sempre a celebrar essa data, acendendo em todos os lares o simbólico candeeiro. É sobre essa tradição hebraica o conto que ides ter. Rodeada de sacos, de malas, de ces- tos e embrulhos de todos os tamanhos e feitios, Raquel procurava desespera- damente qualquer coisa que não apa- recia. De súbito, ergeu-se e, olhando deso- lada para o resto das coisas amontoadas a um canto da casa, exclamou: -Não o encontro, Jacob! Não sei onde o meti! Já revolvi tudo, já fiz e desfiz não sei quantas vezes todos os enibrulhos, já rebusquei dentro de todas as malas, já despejei todos os sacos e não consigo encontra-lo!-deixou cair os braços, desanimada. Uma ruga de preocupação sulcava-lhe a fronte, outrora bela e lisa. Depois balbucionou, quase numa queixa: -Mas eu tenho a certeza de que o trouxe! Não o deixei lá! Veio comigo, sim, lembro-me perfeitamente. -Mas, se veio, onde está?-pergun- tou o marido, impaciente. Ela fez um gesto largo, como se apontasse a imensidão do mundo: -Para aí, escondido dentro de alguma coisa... Como posso eu ver tudo agora, de repente? Uma criança agarrou-lhe a saia: -Mãe ... - Que queres? Não vês que não tenho tempo para te dar atenção? Vai brincar com os teus irmãos. Deixa-me! Tornou acurvar-se e começou a tirar roupa, de dentro duma mala. Entre a roupa havia loiça e objectos diversos: sapatos de criança, livros, caixas. Nada estava acomodado. Via-se nitidamente que tudo ali fora metido de roldão. Voltou a erguer-se e estendeu ao marido um rolinho de papel: - Vês? As torcidas estão aqui... -Pois é, mas para que servem se não aparece o candeeiro? Por que o não arrumaste de maneira que soubesses dele? -Ó meu Deus! Como queres tu que, no meio desta confusão, eu saiba de todas as coisas que são precisas? Já encontrei os pratos, o fogareiro, os fósforos, o azeite... A criança tornou a puxar-lhe a saia: -Mãe, quero pão... -Ó filho, deixa-me! É quase noite... Preciso do candeeiro... -Está ali!-gritou uma vozinha alegremente. -Não é aquele! o que eu procuro é o candeeiro de Hanukáh. -A mãe trouxe-o. Eu vi embru- lhá-lo... -E reparaste onde o meti? O menino olhou para os volumes, esforçandofse por se lembrar. -Não viste onde foi? -Parece-me que foi naquele cesto... Raquel, já cansada, ajoelhou-se no chão. Abriu o cesto e tirou tudo para fora: -Não está cá. Vê se te lembras, Abraão! A criança voltou a fitar os embru- lhos: -Talvez fosse naquela mala... A mãe abriu a mala mas tornou a fechá-la : -Não foi, não. Eu já procurei aqui. -Então, não sei.
N.º 156, Tishri 5719 (Set 1958)
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