HA-LAPID ======================================== MEMÓRIAS da Literatura Sagrada dos judeus portugueses desde os primeiros tempos da Monarquia até fins do Século XV MEMÓRIA I por ANTÓNIO RIBEIRO DOS SANTOS (CONTINUAÇÃO DO N,° 155) Edição da Litúrgica Judaica-Às edições dos Livros Sagrados, e Comen- tários dos Rabbinos acrescentemos aqui a da obra Litúrgica de Rabbi David filho de José Avudraham intitulada Leter tesilod, isto é, Ordem das preces de todo o ano. Imprimiu-se em Lisboa no ano de 1495 em iol. em duas colunas e com carácter Rabbinico Espanhol, o qual contém uma muito perfeita exposição das preces Judaicas, que o autor havia composto em Sevilha. Consta de 170 folhas, e é uma edição elegantissima. (Desta edição de 1495 não tem falado os Judeus, os quais dão por primeira edição a de 1514. Mas Rossi a viu, e dela fala na Origem da Biblioteca Hebraica cap. VI pág. 56. E de passagem notamos que foi feita esta edição no mesmo ano, em que saíu à luz em Lisboa a rarissima obra Portuguesa da Vida de Cristo, tra- duzida do Latim de Ludolfo de Saxónia em Linguagem por Fr. Bernardo de Alco- baça, que foi continuado por Nicolau Vieira, impressa em 4 tomos de fol. de excelente carácter por mandato do Senhor Rei D. João II, e da Rainha D. Leonor, que é uma das mais antigas obras que temos em nossa lingua impres- sas em Portugal afora as I-Iebraicas, como já dissemos, de que há quatro exemplares em Portugal de que temos noticia, um na Biblioteca de Alcobaça, que também tem um Código Ml. outro na Biblioteca do-Excelentíssimo e Reve- rendíssimo Bispo de Beja, outro na Biblioteca dos P.P. da Divina Provi- dência de Lisboa e outro na dos P.P. Franciscanos da observância da Provín- cia de Portugal. Estimação geral destas edições- Estas edições antiquíssimas, que foram as primeiras produções de nossa Tipo- grafia Hebraica, tem a mesma estimação, que se costuma dar a todos os Livros Hebraicos daquele Século: porque sendo de muito apreço todos os Livros, que se imprimiram no principio da invenção da Tipografia muito mais o são os Hebraicos e deste género; e por muitas razões. Particularmente pela sua raridade -I. São mais raros, que os outros, pois que poucos exemplares se imprimiram, por haver mui poucas Tipografias Hebrai- cas naqueles primeiros tempos; e esses poucos os tomaram a si os Judeus, maiormente por ser então muito exces- sivo o preço dos Mss. e os usaram, e con- sumiram de maneira, que hoje apenas aparece um ou outro, este pelo comum gastado e mutilado; donde vem que são raros ainda nas melhores Bibliote- cas dos Principes, confessando todos os Bibliógrafos. principalmene Mattaire, que muito estudo faz em ilustrar os Anais Tipográficos, haver visto muito poucos. Pela vantagem que tem sobre todos os daquele Século-II. Estas edições são as melhores daqueles tempos; pois que tem óptimo papel, margem muito larga, caracteres pelo comum elegan- tíssimos, tinta lusidíssima, e pergami- nhos mui brancos, e claros, de maneira, que sobreexcedem muito na elegân- cia, e magnificência a tudo quanto se imprimiu depois. (Continua)
N.º 156, Tishri 5719 (Set 1958)
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