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N.º 156, Tishri 5719 (Set 1958)







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            HA-LAPID                V
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correligionários pobres. Rosenfeld cose
fatos e passa fome, a fome de Londres,
a mais negra de todas".

Todavia, apesar de se ter tornado no
verdadeiro tipo de judeu errante, o seu
talento não sucumbe. Pela análise pro-
funda e humana que o Dr. Augusto
d'Esaguy consegue fazer à alma do
poeta, sentimos como devem ser real-
mente maravilhosas as suas poesias, ora
revoltadas, ora saud-osas, tristes, deses-
peradas, reflectindo a sua dor, a dor
eterna, o fatal destino do povo judeu
"portador duma mensagem que os outros
não compreendem, aos tombos de pais
para país, saudoso da pequena aldeia
que 0 viu nascer" naquela Polónia que
era a sua pátria-mãe, mas que como
filho o não considerava.

A compreensão, a terna piedade que
ressalta desta biografia, comunica-se-
-nos. Pobre poeta do "ghetto" polaco!

As suas poesias ficarão para todo 0
sempre, juntas a muitas outras, como
documentos vivos do drama judaico.

Em 1942, 0 Dr. Augusto d'Esaguy,
em "Panorama de Israel na Europa",
mostra-nos, com a sua prosa precisa e
profundamente humana, novas imagens
do que foi essa hecatombe fantástica
em que perderam a vida seis milhões de
judeus. E nestas páginas, de amarga
revolta, o seu autor viu-se obrigado a
dizer mal da França que tanto amava,
da França eterna que, ao lado de Por-
tugal, trazia sempre na sua alma.

"A França, contaminada pela traição
e pela anarquia, vendida à propaganda
alemã, como o provou Henri de Kerillis,
perdeu a guerra contra os alemães e,
dirigida pelo senil Petaín, ganhou a
guerra contra os judeus e os judeus
refugiados.

"Dói-me escrever sobre a França.
Não é justo bater nos vencidos quando
os vencidos não segredam ao vencedor,
a troco de gorgetas e favores pessoais,
os nomes das suas próprias vitimas.
Nenhum outro povo desceu a escada
da amargura com tão pouca dignidade
e aprumo moral".

"Ainda os alemães, entretidos a pilhar
a França e a remover para a Alemanha
tudo quanto viam e alcançavam, não
tinham planeado o incêndio das Sina-



gogas, Vichy, macabra capital da França
livre, dinamitava apressadamente as
suas. Incendiava as Sinagogas e man-
dava assassinar Dormoy; incendiava as
Sinagogas e entregava a Gestapo os
principais refugiados alemães, sabendo
que a morte os espreitava. Petain? Laval?
Darlan? Quem são os responsáveis de
mais este crime? Napoleão criou a Legião
de Honra. Petain a Legião da Desonra".

Palavras amargas, de verdade cruel,
proferidas num momento de profunda
dor.

A guerra passou. A França atraiçoada
e vendida voltou a ser livre e na actual
questão de Gaza, tem estado agora ao
lado de Israel. Cremos, também, que
voltou novamente a estar, ao lado de
Portugal, no coração do Dr. Augusto
d'Esaguy...

"Nasceu um Estado: Israel" é o último
desta série de livros que acabamos de
ler, sobre os trágicos problemas do povo
judeu. Publicado em 1950, nele encon-
tramos, maravilhosamente descrita, a
história da criação do pequeno Estado,
que hoje enfileira galhardamente ao lado
das Democracias.

Perpassam nesta obra, não só a satis-
fação da vitória, a emocionada alegria
pela realização do sonho, do anseio
milenário de um povo, mas também as
amargas recordações das vicissitudes,
das angústias, das incertezas, desde a
publicação de "O Estado Judaico" de
Herzl e do primeiro congresso sionista,
realizado na Suíça em 1897, até à con-
quista final da Independência.

Estamos ainda sob a influência da
leitura destes livros admiráveis, que nos
contam a luta, a dor e o esforço gigan-
tesco do povo hebreu na reconquista da
sua Pátria, na reconquista e transfor-
mação do próprio solo, árido e aban-
donado, e para fechar este artigo torna-
mos nossas as palavras do seu ilustre
autor:

"O martírio e o sofrimento dos Judeus
venceram o deserto biblico. Desfez‹se
para sempre o negrume milenário da
noite do deserto. A terra respondeu!
A alma do homem confundiu-se com a
seiva, desceu ao húmus. O sonho de
Theodor Herzl tornou-se realidade"!

          Democracia do Sul, 2-4-957


 
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