HA-LAPID V ====================================== correligionários pobres. Rosenfeld cose fatos e passa fome, a fome de Londres, a mais negra de todas". Todavia, apesar de se ter tornado no verdadeiro tipo de judeu errante, o seu talento não sucumbe. Pela análise pro- funda e humana que o Dr. Augusto d'Esaguy consegue fazer à alma do poeta, sentimos como devem ser real- mente maravilhosas as suas poesias, ora revoltadas, ora saud-osas, tristes, deses- peradas, reflectindo a sua dor, a dor eterna, o fatal destino do povo judeu "portador duma mensagem que os outros não compreendem, aos tombos de pais para país, saudoso da pequena aldeia que 0 viu nascer" naquela Polónia que era a sua pátria-mãe, mas que como filho o não considerava. A compreensão, a terna piedade que ressalta desta biografia, comunica-se- -nos. Pobre poeta do "ghetto" polaco! As suas poesias ficarão para todo 0 sempre, juntas a muitas outras, como documentos vivos do drama judaico. Em 1942, 0 Dr. Augusto d'Esaguy, em "Panorama de Israel na Europa", mostra-nos, com a sua prosa precisa e profundamente humana, novas imagens do que foi essa hecatombe fantástica em que perderam a vida seis milhões de judeus. E nestas páginas, de amarga revolta, o seu autor viu-se obrigado a dizer mal da França que tanto amava, da França eterna que, ao lado de Por- tugal, trazia sempre na sua alma. "A França, contaminada pela traição e pela anarquia, vendida à propaganda alemã, como o provou Henri de Kerillis, perdeu a guerra contra os alemães e, dirigida pelo senil Petaín, ganhou a guerra contra os judeus e os judeus refugiados. "Dói-me escrever sobre a França. Não é justo bater nos vencidos quando os vencidos não segredam ao vencedor, a troco de gorgetas e favores pessoais, os nomes das suas próprias vitimas. Nenhum outro povo desceu a escada da amargura com tão pouca dignidade e aprumo moral". "Ainda os alemães, entretidos a pilhar a França e a remover para a Alemanha tudo quanto viam e alcançavam, não tinham planeado o incêndio das Sina- gogas, Vichy, macabra capital da França livre, dinamitava apressadamente as suas. Incendiava as Sinagogas e man- dava assassinar Dormoy; incendiava as Sinagogas e entregava a Gestapo os principais refugiados alemães, sabendo que a morte os espreitava. Petain? Laval? Darlan? Quem são os responsáveis de mais este crime? Napoleão criou a Legião de Honra. Petain a Legião da Desonra". Palavras amargas, de verdade cruel, proferidas num momento de profunda dor. A guerra passou. A França atraiçoada e vendida voltou a ser livre e na actual questão de Gaza, tem estado agora ao lado de Israel. Cremos, também, que voltou novamente a estar, ao lado de Portugal, no coração do Dr. Augusto d'Esaguy... "Nasceu um Estado: Israel" é o último desta série de livros que acabamos de ler, sobre os trágicos problemas do povo judeu. Publicado em 1950, nele encon- tramos, maravilhosamente descrita, a história da criação do pequeno Estado, que hoje enfileira galhardamente ao lado das Democracias. Perpassam nesta obra, não só a satis- fação da vitória, a emocionada alegria pela realização do sonho, do anseio milenário de um povo, mas também as amargas recordações das vicissitudes, das angústias, das incertezas, desde a publicação de "O Estado Judaico" de Herzl e do primeiro congresso sionista, realizado na Suíça em 1897, até à con- quista final da Independência. Estamos ainda sob a influência da leitura destes livros admiráveis, que nos contam a luta, a dor e o esforço gigan- tesco do povo hebreu na reconquista da sua Pátria, na reconquista e transfor- mação do próprio solo, árido e aban- donado, e para fechar este artigo torna- mos nossas as palavras do seu ilustre autor: "O martírio e o sofrimento dos Judeus venceram o deserto biblico. Desfez‹se para sempre o negrume milenário da noite do deserto. A terra respondeu! A alma do homem confundiu-se com a seiva, desceu ao húmus. O sonho de Theodor Herzl tornou-se realidade"! Democracia do Sul, 2-4-957
N.º 156, Tishri 5719 (Set 1958)
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